Eu sei que estamos em janeiro e os assuntos são outros. Mas hoje fui pega de surpresa: no supermercado, feito esta manhã às pressas, me encontrei com o cheiro de uma manga espada.
Eu sei que junho ainda demora. Mas a saudade evocada por aquele aroma é atemporal. Lembrei, então, desse poema bem despretensioso, escrito no São João passado.
Os sentidos juninos
Eu sei que junho ainda demora. Mas a saudade evocada por aquele aroma é atemporal. Lembrei, então, desse poema bem despretensioso, escrito no São João passado.
Os sentidos juninos
(a tio tinoco, tia lucy e às mangueiras do quintal da minha infância mais feliz)
a minha lembrança
tem cheiro de pólvora
estalo de fogueira
gosto salgado de amendoim cozido
estalo de fogueira
gosto salgado de amendoim cozido
maciez de vestido quadriculado
e cor de noite estrelada.
e cor de noite estrelada.
tem primos correndo em alvoroço
metade de laranja-doce-descascada
brilho de chuvinha que acaba rápido
perfume de canjica lá na cozinha
e chapéu de trancinha coçando na cabeça.
tem susto de bomba estourando de repente
batom vermelho cremoso na boca e na bochecha
pedaço grande de bolo de aipim
alegria suada, pressa de viver tudo
e aperto da mão do primo na quadrilha.
tem fole da sanfona apertando o peito quando a gente lembra
fogos que explodem cada vez mais longe de onde se está
silêncio de junho parecendo um outubro qualquer
sabor que não se encontra onde a gente vai morar
e estrelas com outro brilho-apagado-qualquer.
sabor que não se encontra onde a gente vai morar
e estrelas com outro brilho-apagado-qualquer.
tem saudade demais aqui dentro...
20.06.2009
Estrofe resposta:
ResponderExcluirO nó da gravata fechada com caixa de fósforo
Agora está na garganta ao ler esse poema
"Tomara meu Deus, tomara..."
Que nossa prole tenha infância tão serena
Beijo grande pra toda a família!!
sonhos.....
ResponderExcluir(pensei nisso hoje de manhã, escrevendo sem rascunho direto no blog...)
que coisa é essa, que consegue romper todas muralhas que nossa racionalidade constrói...
que fica imune aos nossos desejos de esquecer nossos medos, nossos amores soterrados pelos conceitos do que é certo e errado, do que consideramos possivel ou impossível...
esse sonho referido não é o acordado. esse último são os desejos conscientes, calcados nas idéias que nossa mente moldou como bom ou ruim...
o sonho "sonho", extrapola o que conhecemos, é outra dimensão...
sonho, duas vogais e tres consoantes, mas até no falar, é mais fluido que o tempo, que o pensamento que o raciocínio...
sonhos, tão incontrolável e tão fugaz..
que bom sonhar...
nos coloca de frente com quem realmente somos.
beijo grande
João Maurício
sonhe comigo e não caia da cama
Mesmo sem cheiro de manga, me deu uma saudade danada do São João da nossa terra e também da minha infância.
ResponderExcluirBom demais...
Beijo
Isa
que delícia de texto!, viajei no tempo. beijo, V.
ResponderExcluirJoão, meu querido,
ResponderExcluirQue linda reflexão sobre os sonhos e como eles nos referenciam.
Adorei.
Beijos da sua Beibe!
Oi prima, que saudade! Adoramos sua poesia sobre a infância, é linda. Painho e mainha se emocionaram e tudo. Beijos, viu? Apareça.
ResponderExcluirLéa