sábado, 23 de janeiro de 2010

La Poésie: notre langue commune


On Frappe
Jaques Prévert

Qui est là
Personne
C'est simplement mon coeur qui bat
Qui bat très fort
A cause de toi
Mais dehors
La petite main de bronze sur la porte de bois
Ne bouge pas
Ne remue pas
Ne remue pas seulement le petit bout du doigt.


Conte de fée
Robert Desnos

Il était un grand nombre de fois
Un homme qui aimait une femme
Il était un grand nombre de fois
Une femme qui aimait un homme
Il était un grand nombre de fois
Une femme et un homme
Qui n’aimaient pas celui et celle qui les aimaient.

Il était un fois
Une seule fois peut-être
Un homme et une femme qui s’aimaient.


Lembrete
Carlos Drummond de Andrade

Se procurar bem, você acaba encontrando
não a explicação (duvidosa) da vida,
mas a poesia (inexplicável) da vida.


Foto: Lagoa Rodrigo de Freitas, Rio de Janeiro, Brasil (fonte: www.nazonasultem.com.br/turismo?id=17)

Os contos, as fadas e a distância entre eles

“Conto infantil que narra encantamentos e fatos maravilhosos com a intervenção de fadas (boas ou más)”.
Fonte: Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa




Os contos de fadas sempre me interessaram por como vêm sendo trabalhados, gerações a fio, os arquétipos humanos, tanto femininos, quanto masculinos: princesas frágeis, ingênuas, solitárias e indefesas; príncipes valentes, aventureiros e salvadores nunca me convenceram muito. Aos 10 anos de idade, mais ou menos, conheci uma livro que desconstruía toda essa história:

Procurando firme, de Ruth Rocha, que tenho autografado e guardado até hoje.

A história começa, como tantas outras, com uma princesa que vive em um reino encantado, cujo destino é ser desposada por um príncipe, que virá buscá-la para que sejam felizes para sempre. Linda Flor é adestrada para ser uma exímia dona de casa: tem aulas de bordado, de culinária, de piano, entre outras prendas e habilidades muito valorizadas pelos pais. É muito branquinha, tem cabelos loiros e longuíssimos, veste-se com delicados vestidos cheios de babados e fru-frus. O irmão dela, ao contrário, passa a vida sendo preparado para sair pelo mundo buscando o seu caminho, com aulas de esgrima, natação, idiomas... E um dia, finalmente, chega a hora da partida e ele sai por aí, "procurando não se sabe o quê, mas procurando firme".

Linda Flor, então, resolve radicalizar (e é aí que a história começa a pegar fogo!): corta o cabelo bem curto, troca os vestidos pela calça comprida, começa a ter aulas com os professores do irmão e já não recebe mais os pretendentes entediantes que chegavam para "salvá-la". Os pais entram em choque, a fofoca rola solta entre os súditose a princesinha sacode o pacato reino com seu novo comportamento! E o que acontece a partir daí, só lendo o livro. Pra mim, foi um uma viagem irreversível!

Alguns anos depois, conheci o fantástico e super premiado Bisa Bia, Bisa Bel, de Ana Maria Machado, que teve 500 mil exemplares vendidos. Também o tenho autografado!

Conta a história da menina Isabel, que um dia encontra uma foto da sua bisavó Beatriz. A partir daí, a Bisa(vó) Bia começa a viver dentro da Bisa(neta) Bel e as duas passam a trocar idéias e experiências, com uma intensa descoberta das diferenças provadas pelo choque de gerações entre elas. Um comovente e lúdico exercício de reflexão da alma feminina.

Recentemente, li sobre um livro lançado na Espanha chamado La Cenicienta que no queria comer perdices e fiquei encantada com a sua proposta de desconstruir a imagem das grandes "musas" dos contos de fadas e suas perfeições inverossímeis, trazendo a "versão século XXI - volta por cima" dessas personagens tão estigmatizadas:

  • Cinderela se revolta, vira vegetariana, sai do baile depois da meia-noite e não quer mais saber do príncipe encantado;
  • Branca de Neve sofre de depressão e vive às custas de Prozac, mas consegue superar o problema e resolve se bronzear para ficar morena e
  • a Bela Adormecida resolve acordar sozinha e ir cuidar da vida, que ela tem mais o que fazer.

O livro se tornou um dos maiores fenômenos de vendas da Espanha nas últimas semanas e as autoras, a escritora Nunila López Salamero e a desenhista Myriam Cameros Sierra, o dedicam a "todas as mulheres valentes que querem mudar de vida".

O lançamento no Brasil está previsto para 2010, PURA VIDA!

Presenteemos as nossas meninas - filhas, sobrinhas, afilhadas, netas, irmãs, vizinhas - com este sopro de valentia e poder de transformação das suas vidas. E, por que não?, também os nossos futuros varões, para que todos sejam felizes, agora sim, para sempre.


A imagem feminina na arte


500 anos de história da Arte Ocidental contada através da imagem feminina.

O vídeo, enviado pelo amigo Marcelo Mendonça, foi criado por Phillip Scott Johnson. Postado no You Tube, foi visto por, aproximadamente, 10 milhões de visitantes e gerou milhares de comentários.

A trilha sonora é a Suíte para Violoncelo no. 1, de Johann Sebastian Bach, executada por Yo-Yo Ma.

Bravo!
Imagem: O nascimento de Venus, de Sandro Boticelli.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Horror



"Pense no Haiti, reze pelo Haiti".

Mais do que nunca, Caê.

O assunto, sim, é o metrô!


Hoje peguei o metrô na direção zona sul/zona norte, na estação Cantagalo, às 18h40, e presenciei, mais uma vez, o caos.

Ele já chegou cheio na Cantagalo, segunda estação da linha 1 nesse sentido, vindo da recém-inaugurada General Osório. Quando parou na Siqueira Campos, a terceira, deu-se a superlotação: uma multidão vinda da praia ou do trabalho invadiu os vagões.

E a situação só piorou nas estações seguintes. Estávamos todos amontoados, sufocados pelo calor, assustados: mães com crianças de colo, senhoras, deficientes, homens, mulheres, adolescentes.

Saltei no Largo do Machado, após enorme dificuldade de chegar à porta de saída. Penso nos que seguiram viagem, em meio àquela situação absurda e perigosa.

O que está acontecendo, afinal? Por que o Metrô, há meses, não atende à demanda de passageiros? Atrasos, superlotação, vagões e estações sem ar condicionado viraram rotina.

Que órgão deve fiscalizar esse desserviço, prestado pela empresa licitada para operar um transporte de massa fundamental para a população? E por que não fiscaliza? Se fiscaliza, por que não multa? Se multa, por que não se recolve? Os termos da licitação estão sendo obedecidos? Por que não há uma política de comunicação séria e sistemática do poder público e da empresa, direcionada aos usuários, esclarecendo o porquê de tamanha confusão? Até quando a situação vai perdurar?

E a população, como sempre, passiva, não vai se manifestar? Quantos aderiram à proposta de boicote ao metrô por um dia, em dezembro passado?

Eu aderi, mas soube, no dia seguinte, que fui uma das poucas.

Atenção:

  1. A situação fica fora de controle com os vagões superlotados.
  2. Quem viaja no sentido zona sul/zona norte enfrenta essa situação diariamente, há muito tempo, em vários horários.
  3. O sentido zona norte/zona sul também está caótico, há tempos.
  4. A multidão não pensa. Qualquer dia, acontecerá uma tragédia.
  5. Não é justo com a população, que paga impostos, esse tipo de tratamento.

Eu estou louca, ou isso não é óbvio, ou o legal é mesmo deixar pra lá e curtir a vida?

E pra não dizer que não falei de verão...

O assunto não é o calor escaldante, nem o metrô cheio e atrasado.

É o seguinte: nada como tomar banho de mar no Arpoador, ao pôr-do-sol, e ficar atéééééé mais tarde.

Mar tranquilo e morno, céu estrelado, pessoas despreocupadas e serenas conversando na areia ou na água... A vista dos Dois Irmãos, do Hotel Marina já aceso ("não é por nós dois, nem lembra o nosso amor")... A vida pode ser boa. E essa cidade, definitivamente, é ma-ra-vi-lho-sa. Aos que estão aqui: aproveitem!

Aroma da memória

Eu sei que estamos em janeiro e os assuntos são outros. Mas hoje fui pega de surpresa: no supermercado, feito esta manhã às pressas, me encontrei com o cheiro de uma manga espada.

Eu sei que junho ainda demora. Mas a saudade evocada por aquele aroma é atemporal. Lembrei, então, desse poema bem despretensioso, escrito no São João passado.


Os sentidos juninos
(a tio tinoco, tia lucy e às mangueiras do quintal da minha infância mais feliz)

a minha lembrança
tem cheiro de pólvora
estalo de fogueira
gosto salgado de amendoim cozido
maciez de vestido quadriculado
e cor de noite estrelada.


tem primos correndo em alvoroço
metade de laranja-doce-descascada
brilho de chuvinha que acaba rápido
perfume de canjica lá na cozinha
e chapéu de trancinha coçando na cabeça.


tem susto de bomba estourando de repente
batom vermelho cremoso na boca e na bochecha
pedaço grande de bolo de aipim
alegria suada, pressa de viver tudo
e aperto da mão do primo na quadrilha.


tem fole da sanfona apertando o peito quando a gente lembra
fogos que explodem cada vez mais longe de onde se está
silêncio de junho parecendo um outubro qualquer
sabor que não se encontra onde a gente vai morar
e estrelas com outro brilho-apagado-qualquer.


tem saudade demais aqui dentro...

20.06.2009

Vamos mudar de assunto?

Com a devida e generosa autorização do autor, o jornalista Arnaldo Bloch, publico aqui no blog, em segunda mão (a primeira, foi na sua coluna dominical, no Segundo Caderno d’O Globo, 09/01/10), uma reflexão super contundente sobre a lenda urbana “ponto G”.

Ampliemos os horizontes, deixemos de papo furado. O céu é o limite e o verdadeiro X da questão está "localizado" para além da dimensão fisiológica - ele é polidimensional! E, ao mesmo tempo, de tão simples, é visível a olho nu.

Obrigada, Bloch.


O X do PONTO G

O gozo masculino é melhor quando se ‘feminiza’

Por Arnaldo Bloch

Num episódio clássico da série que leva seu nome, o filósofo Jerry Seinfeld, num daqueles momentos de stand-up comedy, compara o gozo feminino (no sentido da desejável “tarefa” em geral masculina de proporcioná-lo) à Bat-Caverna (o esconderijo de Batman), dizendo mais ou menos o seguinte:

— Ninguém sabe onde fica. E, se a gente vai lá, não tem a mínima idéia de como chegou.

Claro que não é bem assim. Não é nada assim. Em primeiro lugar, o orgasmo feminino não depende só de quem proporciona, mas do estado de espírito da mulher, de sua personalidade, de sua relação com o próprio corpo, do quanto ela se toca, e de uma infinidade de aspectos de sua subjetividade.

Aí entra (!) o homem lato sensu: claro que são fatores importantes sua habilidade, as técnicas, os encaixes, seus conhecimentos anatômicos, sua sensibilidade, sua paciência, suas características, em face às preferências da parceira. Mas a Mãe Natureza é misteriosa e generosa: em alguns casos (os melhores), a química, por si só, faz maravilhas sem qualquer esforço de uma parte ou de outra, sendo que os detalhes técnicos podem ou não participar da festa, só como uma cereja no embalo do bolo.

Mas num ponto a piada careta e simplificadora de Seinfeld acerta em cheio: o orgasmo feminino é rico, complexo, e sua geografia é um mistério. A ponto de se ter criado o conceito do ponto G como algo que poderia vir para explicar, mas que acabou servindo para confundir. A existência de um ponto “atrás do osso púbico, perto do canal da uretra e acessível através da parede anterior da vagina” como sendo o centro ótimo da estimulação orgástica (trazendo inclusive uma série de benefícios médicos) criou uma espécie de corrida ao ouro, que, no final, se revelou infrutífera: embora muitos e muitas se gabassem de tê-lo encontrado, a coisa sempre esteve mais para história de pescador. Isso não quer dizer, de forma alguma, que o ponto G não exista, como agora um estudo vem preconizar. Ao contrário: o que não existe é uma localização determinada para ele na vastidão da sexualidade feminina. Assim, o fato de o ponto G ser um mito, por paradoxal que pareça, é a prova maior de sua existência!

Ele existe em vários lugares. Um hoje, outro amanhã. Ou ao mesmo tempo, ubíquo e onipresente, em todos os lugares. Ou, creiam, num lugar só e em vários, complementarmente. O gozo feminino é uma onda de energia que percorre todo o corpo, pode durar muito tempo e conduz a um estado de alma posterior elevadíssimo, que transcende o simples desejo de dormir depois do “descarrego”, tão característico do
orgasmo masculino. Este tende a ser descrito como sempre localizado e de curta duração. Ou seja, o ponto G do homem estaria muito mais próximo da definição original: sua localização é conhecida, é o pênis (ou, segundo algumas vozes iogues, outras iogays, a próstata...).

Por isso o homem inveja tanto o orgasmo feminino. Alguns buscam, através de esforços tântricos ou reichianos, a superação. Outros desistem de ver nele algo tão especial, como um amigo meu que, dia desses, veio com essa:

— Arnaldo, tem tantas coisas melhores para se fazer com uma mulher do que gozar!
Quer gozar, vá ao banheiro. Ou seja, para esse meu amigo, gozo-ejaculação. A não ser no banheiro, onde a fantasia bate um bolão... Respondi de bate-pronto:

— Cara, a qualidade do seu orgasmo com mulheres deve estar muito baixa. E vou te dizer: depois que passei dos 30, e, mais ainda, dos 35, o orgasmo passou a ser ao mesmo tempo mais demorado, mais intenso, mais curtido e mais espraiado. Sobe pela espinha, solta o peito, liberta os pensamentos...

— Menos, Arnaldo. Você está descrevendo um orgasmo feminino.

Se é isso, que assim seja. Uns 20 anos atrás, lembro-me de meu pai dizendo coisa semelhante. Que, com a idade, o gozo dele foi melhorando. Talvez seja isso: como a mulher é sempre mais madura que o homem, ela goza melhor. Quando o homem atinge, tardiamente, a maturidade, ganha de presente esse atributo: o gozo com G maiúsculo. Donde se conclui, penso, agora, com meus botões ainda atados, que o ponto G, em toda a sua grandeza e virtualidade, existe para todos, homens e mulheres (heteros ou gays), onde quer que ele esteja, e quando for o momento. O ponto G é único e múltiplo, individual e coletivo, pode estar em dois lugares ao mesmo tempo e sua geografia é mais quântica que newtoniana. E ponto final.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

os melhores desejos para 2010

Peço ao ano-novo
Aos deuses do calendário
Aos orixás das transformações:
Nos livrem do infértil da ninharia
Nos protejam da vaidade burra
Da vaidade "minha" desumana sozinha
Nos livrem da ânsia voraz
Daquilo que ao nos aumentar, nos amesquinha.
A vida não tem ensaio
Mas tem novas chances
Viva a burilação eterna, a possibilidade:
O esmeril dos dissabores!
Abaixo o estéril arrependimento
A duração inútil dos rancores
Um brinde ao que está sempre nas nossas mãos:
A vida inédita pela frente
E a virgindade dos dias que virão!

Elisa Lucinda

O Caim de Saramago

Trecho de "Caim", de Saramago: hilariante, deliciosamente herético, finamente sarcástico, brilhantemente irônico, para o deleite de nós outros, pobres mortais, tão carregados dessa culpa desnecessária!


"(...) Ora, enquanto sobem e não sobem [Abraão e o filho Isaac, este último prestes a ser sacrificado pelo pai, a pedido de Deus], convém saber como isto começou para comprovar uma vez mais que o senhor não é pessoa em quem se possa confiar. Há uns três dias, não mais tarde, tinha ele dito a abraão, pai do rapazito que carrega às costas o molho de lenha, Leva contigo o teu único filho, isaac, a quem tanto queres, vai à região do monte mória e oferece-o em sacrifício a mim sobre um dos montes que eu te indicar. O leitor leu bem, o senhor ordenou a abraão que lhe sacrificasse o próprio filho, com a maior simplicidade o fez, como quem pede um copo de água quando tem sede, o que significa que era costume seu, e muito arraigado. O lógico, o natural, o simplesmente humano seria que abraão tivesse mandado o senhor à merda, mas não foi assim. Na manhã seguinte, o desnaturado pai levantou-se cedo para pôr os arreios no burro, preparou a lenha para o fogo do sacrifício e pôs-se a caminho para o lugar que o senhor lhe indicara, levando consigo dois criados e o seu filho isaac. No terceiro dia de viagem, abraão viu ao longe o lugar referido. Disse então aos criados, Fiquem aqui com o burro que eu vou até lá adiante com o menino, para adorarmos o senhor e depois voltamos para junto de vocês. Quer dizer, além de tão filho da puta como o senhor, abraão era um refinado mentiroso, pronto a enganar qualquer um com a sua língua bífida, que, neste caso, segundo o dicionário privado do narrador desta história, significa traiçoeira, pérfida, aleivosa, desleal e outras lindezas semelhantes".
(Saramago, José. Caim: romance. São Paulo, Companhia das Letras, 2009. págs. 78 e79)

E para quem ainda não caiu na real do virtual: ele também tem blog! O Caderno de Saramago

Blogueiros, unidos, jamais serão vencidos!

p.s.1: A polêmica com a Igreja Católica

p.s.2: Crítica do Estadão