segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

O exercício era: escrever um texto a partir do olhar masculino + tempo cronológico: 10 segundos (está verossímil, meninos?)

Vermelho
Como assim, ela vai de qualquer jeito?, ele pensou, ao frear no sinal fechado. A gente ia resolver junto, pesquisar, conversar, agora ela chega com a notícia, do nada, cara! Ok, ela nunca escondeu que queria fazer doutorado fora do Brasil – não, não, amigo, já limpei no posto, valeu! - vá limpar o vidro da puta que te pariu, esses viados emporcalham mais que o cu deles!! (pensava enquanto sorria com o polegar em riste para o garoto com balde e flanela na mão). Como se Hamburgo fosse ali! Eu sei que a gente combinou, ela faria o doutorado, e eu, um MBA, pô, mas isso foi há dois anos, esqueci, caralho, nem sabia que ela ia fazer essa prova da seleção - vai, gos-to-sa! Olha a pôrra da bunda dessa filha da mãe, vai, passa, minha filha, rebola, sua safada... - e da visão paradisíaca da morena no microvestido roxo, eis que surge uma mulher desdentada com o filho no colo batendo na sua janela, vendendo... - que merda era aquela? – não, não, minha senhora, não, obrigado – esse caralho desse sinal não vai abrir, não, pôrra?!? – não, não tenho moeda, grita e gesticula, fazendo de conta que confere no painel do carro, não tenho – vai, abre, cacete! Ela tinha me dito que faria uma prova, mas não explicou que era da seleção. Falou, falou, ela falou, eu achei que não ia passar, fiquei na minha, não vou nem dizer que não sabia, ela vai começar a ladainha “eu falo mil vezes e você não dá atenção”, já vi tudo. Mas Hamburgo, cara? Se ainda fosse Londres, Paris, com aquelas francesas gostosas... Vou ter que aprender alemão! Nossa, essa música é foda!, diz aumentado o som. Vê uma correria entre os carros parados no sinal, baixa o som, o menino do balde passa feito um raio, se chocando contra seu retrovisor – filho da puta!!! Baixou o vidro, fez sinal para a mulher do carro ao lado, que tinha cara de pânico: “o que houve?”. A mulher baixou o vidro o suficiente para ser ouvida, parece que o garoto tinha arrancado a bolsa de alguém num carro da frente e saído correndo. Caralho, que moleque escroto!! A mulher fechou o vidro – pensou: “gata, hein? Carrão do ano, roda de liga leve, 17 polegadas... Uma dessas que eu precisava pra me dar casa, comida e roupa lavada”... O celular toca: “oi, cara, tô chegando, tô entrando na garagem... Avisou a quem? Não, não tava sabendo, em que sala vai ser?”, olhou para o relógio, putz, a reunião ia invadir o horário do almoço de novo e ele nem tomou café direito, puta que pariu... Cadê o moleque, será que pegaram? Aumenta o som de novo, ouve os acordes de guitarra, lembra do show do grupo que assistiu no ano anterior – do caralho! – e só deu tempo de pensar antes do sinal abrir: “será que eles tocam em Hamburgo”?!?

4 comentários:

  1. Adorei...

    Talvez dê para perceber que foi escrito por uma mulher, em função da crítica escancarada à superficialidade masculina e de como os homens resolvem as coisas sérias de forma bem simples´(sendo isso o que as mulheres mais odeiam em nós). Todavia, os detalhes como "roda aro 17" e "fingir que procura uma moeda" é do universo bem masculino e faz um bom balanço.

    Show de bola. Vai publicar?

    bjs, João.

    ResponderExcluir
  2. Gostei, achei bem bacana.
    Mas é engraçado perceber que sob a ótica feminina a pornofonia é o aspecto mais espontâneo da natureza masculina. Mas... é bem por aí mesmo.

    Bjs, graciano

    ResponderExcluir
  3. tudo o que eu precisava era de uma mulher que me entendesse! casa comigo? (é sério, viu?)

    thomas

    ResponderExcluir
  4. gabi, tá muito maneiro, cara! a gente é foda mesmo. DDA total! rsrsrsrsrsrs

    beijão, luciano

    ResponderExcluir